quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Petrobras

A dívida da Petrobras deve atingir R$522 bi.

Orgulho nacional, segundo a propaganda oficial do governo, a Petrobras foi e continua sendo uma das maiores vítimas (seus acionistas minoritários em especial) da má gestão e dos excessos contidos na política econômica dos últimos anos. Não à toa, a empresa que movimenta 10% da nossa economia, foi um dos pilares da política desenvolvimentista do atual governo.
Seu gigantismo e a sensação de infalibilidade levaram o Palácio do Planalto a utilizar a Petrobras como peça chave na promoção do ressurgimento da industria naval, no desenvolvimento da indústria (com a criação de uma política de componentes nacionais para a produção de plataformas e outros bens usados pela empresa) e na promoção de políticas sociais por meio de leis que destinam os royalties do pré-sal para a educação.
A empresa de 62 anos, criada ainda por Getúlio Vargas em 1953, se comprometeu a investir US$ 212,3 bilhões entre 2010 e 2014 para elevar sua produção e tornar o pré-sal uma realidade. Desde que realizou seu aumento de capital em 2010, porém, deixou de ser a 12ª para se tornar a 416ª maior empresa do mundo, segundo a revista norte americana Forbes. Seu valor de mercado saiu de US$ 270 bilhões para os atuais US$ 25 bilhões (em reais a perda é superior a 70%). Sua margem de lucro saiu de 16,61% em 2010 para -8,38% em 2015. Suas ações, cotadas a R$24,43 após a eleição de Dilma, desabaram para atuais R$ 6,97.
Mas, como em um avião em queda, as causas não se resumem a um único ponto. De lá para cá o preço do barril de petróleo caiu pela metade e o dólar dobrou de valor – elevando os custos da empresa, em especial com a importação de combustíveis para a venda subsidiada (por um preço de venda menor que o preço pago pela empresa), prática que foi utilizada para amenizar a inflação, uma vez que combustíveis tem um alto custo na renda das famílias. Além de causas operacionais, a Petrobras também enfrentou aquele que pode ser considerado o maior escândalo de corrupção da história do país, sozinho capaz de elevar seus custos em R$ 88,6 bilhões, segundo análises da própria empresa – um valor mais de 2 vezes superior ao lucro recorde da companhia, registrado em 2010.
Menos aparente, mas não menos importante, está a decisão do governo, tomada ainda em 2009, de mudar o bem sucedido regime de exploração do petróleo no Brasil. Adotado após o fim do monopólio na produção de petróleo, em 1997, o modelo de concessão prevê que os vencedores do leilão realizado pela Agencia Nacional do Petrolóleo (ANP) paguem royalties de 10%, além das chamadas “participações especiais”, um modelo segundo o qual campos mais produtivos geram arrecadação. Durante a vigência deste modelo, a produção nacional cresceu nada menos do que 127% entre maio de 1997 e agosto de 2009, quando o então governo decidiu criar um modelo específico para o pré-sal.
No novo modelo – o regime de partilha – a Petrobras passou a ter a obrigatoriedade de operar no mímimo 30% de cada campo de petróleo. Além do atraso em licitar novos campos, que fez a produção nacional estagnar, crescendo apenas 16,54% entre agosto de 2009 e maio de 2015, a medida adotada teve como efeito colateral um excessivo endividamento da estatal, que chegou ao posto de maior detentora de dívida no mundo, com uma marca que não para de crescer: saindo de R$ 115 bilhões em 2010 para os R$ 522 bilhões atuais. Em boa parte, a dívida está relacionada à alta do dólar, uma vez que a empresa tem reiteradamente captado investimentos no exterior (algo que se tornará mais difícil de manter, dada a perda do investiment grade). Para contornar o problema, o governo promete realizar um plano de venda de ativos superior até mesmo às privatizações da década de 90. A dívida, que atinge um marco histórico, superior a meio trilhão de reais, abre margem para uma divertida especulação. Você consegue imaginar o tamanho dela? Caso sua resposta seja negativa, sem problema. Colocamos em perspectiva para você.

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