terça-feira, 2 de março de 2021

O multiplicador por Rothbard

 O Multiplicador

Quantos de vós aprenderam o famoso "multiplicador keynesiano" nas aulas de economia? Fez-vos sentido?
Neste breve excerto do seu tratado Man, Economy and State (1962), o economista americano Murray N. Rothbard (1926-1995), aluno de Ludwig von Mises em Nova Iorque, dá um twist sarcástico e brilhante ao argumento matemático que suporta o multiplicador, mostrando que, muito mais poderoso do que o multiplicador do investimento ou da despesa pública, seria multiplicador de um só indivíduo!
Vejam só:
"A popularidade do outrora mui respeitado "multiplicador" encontra-se hoje em dia desvanecida, uma vez que os economistas começaram, felizmente, a perceber que ele representa simplesmente o reverso de uma função consumo estável. Todavia, ainda não se tomou plena consciência da completa absurdidade do multiplicador. A teoria do "multiplicador do investimento" funciona um pouco como se segue:
Rendimento da Economia = Consumo + Investimento
O Consumo é uma função estável do rendimento, conforme revelado por correlação estatística, etc. Suponhamos, para simplicidade, que o Consumo representará sempre 0,8 * (Rendimento).† Nesse caso,
Rendimento = 0,8 * (Rendimento) + Investimento.
0,2 * (Rendimento) = Investimento; ou
Rendimento = 5 * (Investimento).
O "5" é o "multiplicador do investimento". Parece, portanto, óbvio que tudo o que precisamos para aumentar o rendimento monetário da economia num determinado montante é aumentar o investimento em 1/5 desse montante; e a magia do multiplicador fará o resto. Os primeiros "impulsionadores"/“estimuladores” acreditavam que se deveria abordar este objectivo através de um estímulo ao investimento privado; os keynesianos mais recentes perceberam que, ao passo que o investimento é um factor "activo" volátil, a despesa pública não é menos activa mas é mais certa, pelo que se deve confiar na despesa governamental para proporcionar o efeito multiplicador necessário. A criação de dinheiro seria a via mais eficaz, uma vez que assim o Governo teria a certeza de não reduzir os fundos privados. Daí que se tenha passado a chamar "investimento" a todas as despesas governamentais: é "investimento" porque não se encontra passivamente ligado ao rendimento.
O que se segue é proposto como um "multiplicador" muito mais potente – na perspetiva keynesiana, é ainda mais potente e eficaz do que o multiplicador do investimento e, na perspetiva keynesiana, nada se lhe poderá obstar. É uma reductio ad absurdum, mas não é uma simples paródia, pois está em conformidade com o método keynesiano.
Rendimento da Economia = Rendimento de (inserir nome de uma pessoa qualquer, digamos o leitor) + Rendimento do resto das pessoas.
Usemos símbolos:
Rendimento da economia = Y
Rendimento do leitor = L
Rendimento do resto das pessoas = R
Constatamos que R é uma função completamente estável de Y. Se os traçarmos a ambos em coordenadas, encontramos uma correspondência histórica de um-para-um entre eles. É uma função tremendamente estável, muito mais estável do que a "função consumo". Por outro lado, representemos também L face a Y. Aqui encontramos, em vez de uma correlação perfeita, apenas a mais remota das ligações entre o rendimento flutuante do leitor destas linhas e o rendimento da economia. Portanto, o rendimento deste leitor é o elemento activo, volátil e incerto do rendimento da economia, enquanto o rendimento do resto das pessoas é passivo, estável, determinado pelo rendimento da economia.
Suponhamos que a equação a que se chega é a seguinte:
R = 0,99999 * Y
Então, Y = 0,99999 * Y + L
0,00001 * Y = L
Y = 100.000 * L
Este é o multiplicador pessoal do leitor, um multiplicador muito mais poderoso do que o multiplicador do investimento. Para aumentar o rendimento social e assim curar a depressão e o desemprego, só é preciso que o governo imprima um certo número de dólares e os entregue ao leitor destas linhas. As despesas do leitor “impulsionarão” um aumento de 100.000 vezes do rendimento nacional.
† - Na verdade, a forma da função keynesiana é geralmente "linear", por exemplo, Consumo = 0,8 * (Rendimento) + 20. A forma proposta no texto simplifica a exposição sem, no entanto, alterar a sua essência."
(Já agora, por curiosidade, apesar de Keynes ter dado uso ao "multiplicador" na sua Teoria Geral (1936), o conceito foi na verdade introduzido pelo seu amigo e seguidor Richard Kahn, uns anos antes.
Note-se que este post não refuta, por si só, a utilidade de um conceito como o do multiplicador na teoria económica. Simplesmente revela a óbvia falácia em que incorre quem confunde álgebra com economia)
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Completaria hoje 95 anos Murray N. Rothbard, o mais radical e carismático dos austríacos na América. Aqui deixamos uma breve homenagem em sua memória, republicando a nossa tradução de como hilar

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