VEJA
Inovação - Com razão, o governo brasileiro tem o
hábito de culpar os baixos salários chineses pela grande competitividade
de seus produtos manufaturados, como carros – mas peca ao desconsiderar
os investimentos incomparáveis em inovação feitos pelo país asiático
para chegar ao nível de produtividade que tem hoje – a China está em 29º
lugar no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial,
enquanto o Brasil está em 48ª posição. Em 1987, o economista americano
Robert Solow ganhou o Prêmio Nobel de Economia por sua teoria de que
grandes saltos civilizatórios eram decorrentes de investimentos pesados
em inovação e qualificação da força de trabalho – e não apenas devido ao
consumo das famílias, como parece crer o núcleo econômico petista.
A construção civil é um claro exemplo de avanço do emprego e dos preços
devido ao aumento do consumo – e não da inovação. A expansão do
crédito, a estabilidade econômica e o mercado de trabalho aquecido foram
os grandes pilares de crescimento do setor imobiliário. Diante de tal
aceleração, a oferta de trabalhadores se tornou escassa. Com isso, os
salários pagos neste segmento tiveram reajustes fora da média - cerca de
30% nos últimos três anos, segundo o Índice Nacional de Custo da
Construção (INCC). “Situações como essa são preocupantes. Pois a soma da
valorização da moeda e do aumento real do salário que superam, de
longe, a variação da produtividade do setor”, afirma o professor da FGV,
André Portela Souza.
Restará ao Brasil a tarefa de descobrir o resultado da equação de baixo
desemprego e baixa produtividade industrial. O economista austríaco
Friedrich Hayek, grande opositor às ideias de Keynes, sugere um fim
pouco otimista para situações aparentemente positivas no mercado de
trabalho, como ocorre no Brasil. Hayek argumenta que os sucessivos
aumentos salariais que excederem os aumentos de produtividade afetarão a
demanda – e, consequentemente, a inflação. Segundo ele, quanto mais
durar a inflação, maior será o número de trabalhadores que dependerão da
continuidade do aumento de preços. “Porque eles (os trabalhadores)
foram levados a empregos temporariamente atrativos devido à inflação e,
depois de uma desaceleração de preços, as vagas desaparecerão”. A saber,
quando as vagas desaparecerem, qual será o trunfo político da vez.
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