Quando despontará, enfim, o Pós-Novo Brasil?
20 de janeiro de 2016
A ideia não é minha. Pós-Novo Brasil é o título de uma publicação recente coordenada pelo pesquisador japonês Ryohei Konta (veja aqui, em inglês). Além de amigo, Konta é um estudioso dedicado, apaixonado pelo Brasil, e que, junto com um grupo de economistas e analistas teve o privilégio de olhar-nos de longe, lá do outro lado do planeta, ao longo dos conturbados anos de 2014 e 2015. Às vezes de quanto mais perto olhamos o Brasil, menos o entendemos. Engalfinhados que estamos em nossa luta cotidiana pela sobrevivência e atordoados por um interminável rol de acontecimentos, aos quais frequentemente não conseguimos sequer determinar a relevância. Visto de longe, entretanto, o país ganha em coordenadas: lugar em algum ponto de uma trajetória no tempo e espaço.
Para resumir a tese dos estudiosos japoneses: a estabilização econômica do Plano Real (1994), seguida de crescimento econômico, redução de desigualdades e pobreza nos governos Lula, deram origem a um Novo Brasil. Este, porém, se desfez em algum momento a partir de 2012, com estagnação econômica, decisões governamentais que desequilibraram rotas (Dilma e seu gerenciamento de variáveis como desonerações e contas públicas) e protestos generalizados. Daí que vivemos, agora, um Pós-Novo Brasil. Nascido abruptamente sem revelar a que veio e sem feições.
É um Brasil, o de agora, que veio depois de uma série de realizações econômicas, sociais e políticas (democracia continuada), mas que se esgotou – e não se sabe ao certo para onde vai. Nestes termos, o Novo Brasil inaugurado com o Real em 1994, e aprofundado na Era Lula, teve, sob muitos aspectos, como meta-síntese, a melhora de condições econômicas de parte significativa da população. No caso, os japoneses citam as 32 milhões de pessoas que ascenderam das chamadas categorias D/E de consumo para a C entre 2003 e 2009 ou a “nova classe média” (acima de 2 salários mínimos de renda familiar) como nomeada pelos governos petistas.
Este Novo Brasil, como todos sabem, ruiu, e agora vivemos a era da incerteza daquilo que vem depois – o Pós. Uma transição. Algo que ainda não se definiu, embora, de luto, lamente pelo que foi. Quando os eleitores em 2014 elegeram a palavra MUDANÇA como bandeira central, o fizeram com um olho no retrovisor: o que havia era o desejo que a vida voltasse a melhorar. Isso não aconteceu. Pelo contrário.
Dos dados econômico-sociais divulgados recentemente, talvez o mais significativo para ilustrar a transição brasileira atual, seja o elaborado pela economista Ana Maria Barufi, do Bradesco, e que saiu na imprensa. Segundo ela, 3,6 milhões de pessoas caíram da faixa de consumo C (a nova classe média) para D/E (os mais pobres), entre janeiro e novembro de 2015. O elevador social não apenas enguiçou, mas dá trancos para baixo.
O Pós-Novo Brasil está aí, se ajeitando às novas condições. É uma espécie de Brasil-Tampão no qual a população figura como passageira descontente. Ninguém quer conviver com o desemprego, com uma eterna crise política, com a queda na renda. Esse Pós-Novo Brasil, batizado nas manifestações de junho de 2013, quando se revelou uma insatisfação profunda da população com o que está aí, já se prolongou demais. Em algum momento (o quanto antes melhor) será necessário lhe dar um contorno mais nítido, que aponte para algum lugar ou ao menos recupere a promessa de que dias melhores virão. Quem virá com a brisa?
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