Roberto Campos ainda atual:
Do artigo: Como perder uma década -
Roberto Campos 14/06/1998
"Seria uma ressurreição satânica retirarmos Lula e Brizola - esse casamento do analfabetismo econômico com o obsoletismo ideológico - da história para o proscênio do poder.
Compreensivelmente, ambos lutam contra o neoliberalismo. É que são neoconservadores. Opõem-se globalmente às reformas, protestam contra a abolição dos monopólios estatais, pois as corporações burocráticas são suas pastagens políticas privilegiadas. E se esquecem de que os monopólios pouco ou nada rendem ao Tesouro, cujos dividendos são muitos inferiores às contribuições alocadas ao patrimônio privado dos fundos de pensão dos funcionários.
Não querem a reforma administrativa, pois desejam conservar a estabilidade do funcionalismo, discriminando contra os trabalhadores do setor privado. Opõem-se à reforma do sistema previdenciário, que maltrata os trabalhadores comuns, desviando recursos para aposentadorias precoces e especiais. Lutam contra a desregulamentação trabalhista, esquecidos de que ela expeliu 57% da mão-de-obra para a economia informal, de sorte que há muitas garantias e poucos garantidos.
Os neoconservadores falam em democracia, mas têm cacoetes antidemocráticos: o monopólio estatal é uma cassação do direito de produzir; a previdência pública compulsória priva o trabalhador do direito de escolher a quem confiar a administração de sua poupança.
A inflexibilidade da legislação trabalhista dificulta ou impede a livre negociação entre patrões e empregados.
Não é surpresa que defendam a universidade pública gratuita, que subvenciona ricos e abastados, roubando recursos à educação de massa primária e secundária.
Subjacente ao discurso neoconservador, há uma aversão ao lucro empresarial ignorando-se o fato de que o lucro de hoje é o investimento de amanhã e o emprego de depois de amanhã.
Quinze anos de convivência no Congresso com o PT e o PDT me ensinaram que o esporte preferido desses partidos é a briga com a lógica econômica.
Falam na modernização da economia, mas insistem em manter instituições obsoletas.
Falam na modernização da economia, mas insistem em manter instituições obsoletas.
Querem gerar empregos, mas rejeitam medidas para aumentar a empregabilidade. Essas exigiriam atitudes pouco simpáticas aos neoconservadores: a) privatização de estatais, pois o Estado perdeu capacidade de investir; b) alívio da carga fiscal, coisa incompatível com o Estado grande; c) abertura para investimentos estrangeiros; d) concentração de recursos na educação primária e secundária, para "tecnificação" do trabalhador."
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