domingo, 9 de junho de 2013

O que provocou a Grande Depressão?


De acordo com Friedman-Schwartz, foi o colapso da oferta monetária - devido à negligência do Fed - que transformou o que seria uma "recessão corriqueira" em uma Grande Depressão.  Essa visão da dupla Friedman-Schwartz passou a dominar a macroeconomia tradicional após o colapso do consenso keynesiano na década de 1970.  Com efeito, hoje ela representa a explicação convencional para a Grande Depressão, e é a ela que Ben Bernanke - assim como praticamente todos os presidentes dos bancos centrais mundiais - recorre como resposta à atual crise financeira.
Assim, durante décadas, Rothbard e um punhado de economistas misesianos estavam virtualmente sozinhos quando argumentavam que foram as políticas intervencionistas de Hoover, principalmente o impacto delas no mercado de trabalho industrial, as principais responsáveis por transformar o que deveria ter sido uma recessão curta e profunda em uma catástrofe econômica de proporções épicas que hoje conhecemos como a "Grande Depressão".

Eis que surge agora um artigo publicado pelo National Bureau of Economic Research (NBER), escrito por um proeminente economista com impecáveis credenciais acadêmicas - e aceito para publicação pelo influente Journal of Economic Theory -, que desafia a visão da dupla Friedman-Schwartz e dá ampla evidência à posição de Rothbard sobre a gênese da Grande Depressão.  Para escrever seu artigo Who - or What - Started the Great Depression (Quem - Ou o Quê - Iniciou a Grande Depressão), o economista Lee E. Ohanian, da UCLA, passou quatro anos examinando e analisando minuciosamente dados salariais e coletando informações de fontes relacionadas a Hoover e ao seu governo.[1]
Com o intuito de quantificar a magnitude dos efeitos do programa trabalhista de Hoover sobre o mercado de trabalho industrial, Ohanian utilizou esses dados e fontes para construir e calcular um modelo de equilíbrio geral da economia sob Hoover.  Utilizando esse mesmo modelo, ele comparou dois resultados: um obtido com o programa de Hoover e ou outro, sem.
Ohanian sustenta que a política hooveriana de estimular salários e encorajar a partilha das mesmas funções entre os funcionários de uma mesma empresa "foi especificamente o evento mais importante na precipitação da Grande Depressão" e resultou em "uma significativa distorção do mercado de trabalho".
Dessa forma, "a recessão foi três vezes pior - no mínimo - do que teria sido caso contrário, por causa de Hoover".
A principal razão é que, em setembro de 1931, os salários nominais eram 92% de seu valor de dois anos antes.  Mas como havia ocorrido uma significativa deflação de preços durante esses dois anos, os salários reais na verdade aumentaram 10% durante esse mesmo período, ao passo que o Produto Interno Bruto (PIB) havia caído 27%.  Em contraste, durante os anos 1920-1921, um período em que também houve uma severa deflação, "alguns salários da indústria haviam caído 30%.  O PIB, por sua vez, havia caído apenas 4%".
A tabela a seguir mostra os salários monetários (nominais) e os reais, por hora de trabalho, tomando-se como base 100 o ano de 1929:
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Como observa Ohanian, "A Depressão representou a primeira vez na história dos EUA que os salários não caíram durante um período de significativa deflação".  Ohanian estima que o severo desequilíbrio no mercado de trabalho causado pelas políticas de Hoover explica 18% desse declínio de 27% ocorrido no PIB dos EUA até o quarto trimestre de 1931.  Apenas para esclarecer a linguagem matemática: Ohanian está dizendo que apenas as políticas salariais de Hoover derrubaram o PIB em 18% no período 1929-1931.
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